Em São Cristóvão do Sul, Santa Catarina, autoridades desmantelaram um elaborado esquema de simulação de desaparecimento e falsificação de morte. Um empresário foi detido após tentar, em duas ocasiões, forjar seu óbito – inclusive utilizando um corpo carbonizado encontrado em uma Chevrolet S10 queimada no interior da cidade.
Descoberta macabra e primeiras investigações
A ação investigativa ganhou força após a localização de uma caminhonete queimada, com um corpo severamente carbonizado em seu interior, dificultando a identificação da vítima. Inicialmente, o desaparecimento havia sido comunicado três dias antes, e as investigações apontavam para um possível homicídio ou morte decorrente de vingança, em meio a problemas na empresa, onde o empresário aplicava golpes em clientes e fornecedores.
Nova linha de investigação e vídeos impactantes
Entretanto, depoimentos de testemunhas alteraram o rumo da investigação. Relatos indicaram que o empresário circulava pela região com a caminhonete, acompanhado por um homem com histórico policial e envolvido em diversos homicídios. As testemunhas também afirmaram que o homem desaparecido, supostamente a vítima, aparentava tranquilidade, não demonstrando sinais de sofrer violência.
A trama se adensou com a divulgação de vídeos que, supostamente, mostravam cenas de tortura. Em uma das gravações, era possível ver a amputação de um dedo, enquanto um interlocutor afirmava que o corpo encontrado na S10 não pertencia à vítima – e que ela estaria condenada a morrer naquele momento. Imagens subsequentes mostravam pneus em chamas.
Esses vídeos chocaram familiares e a comunidade, especialmente após a ex-namorada do empresário ter recebido, em Blumenau, uma garrafa pet contendo um pedaço de dedo recém-amputado e outros dois dedos, o que levantou a hipótese de uma tentativa de confrontar o DNA da vítima.
Aproximação de novos desaparecimentos e abordagem a moradores de rua
Com o estreitamento das investigações, a Polícia Civil passou a relacionar o caso a outros desaparecimentos na região. No dia 12 de fevereiro, a família de um homem de 59 anos – com histórico de problemas com bebidas e morador de barracas – registrou seu desaparecimento. Entrevistados, principalmente moradores de rua, relataram que o proprietário da caminhonete, junto com o cúmplice, abordava pessoas oferecendo um “sacolão de alimentos” em troca de que estas entrassem no veículo para uma viagem até Curitibanos. Nenhum dos ofertados aceitou a proposta, mas um homem, que costumava circular pela área, sumiu misteriosamente nesses dias.
Descoberta e prisão em Navegantes
A reviravolta no caso ocorreu quando, em uma UPA 24h de uma cidade do litoral, um homem com características compatíveis com o desaparecido foi identificado por testemunhas. Segundo informações, o indivíduo buscara atendimento médico logo após a divulgação dos vídeos, o que sugere que, após realizar a amputação e divulgar as imagens, os envolvidos foram procurar socorro.
Com a rede de pistas e a localização possível dos suspeitos, a Polícia Civil efetuou a busca e apreensão do veículo e determinou a prisão preventiva dos dois homens. O mandado foi cumprido em uma favela na cidade de Navegantes. Em interrogatório, embora os acusados tenham optado pelo silêncio, admitiram informalmente que a motivação do crime era de natureza financeira – destacando a existência de um seguro de vida em nome da vítima.
Possíveis acusações e próximos passos
O empresário, que já vinha aplicando golpes contra clientes e fornecedores, poderá responder por homicídio triplamente qualificado, falsidade ideológica e estelionato, tanto contra fornecedores e credores quanto contra a seguradora. O caso continua em investigação, com as autoridades analisando novas evidências que possam esclarecer todos os contornos dessa trama complexa e chocante.
A ação policial reforça o compromisso das autoridades em investigar fraudes e crimes que envolvem a manipulação de informações e a tentativa de ludibriar familiares e instituições, além de trazer à tona a necessidade de mecanismos mais rigorosos para evitar que criminosos se valham de artifícios macabros para obter ganhos ilícitos.