Um dia depois de Israel negar ter aceitado a proposta de cessar-fogo com o Hezbollah costurada pelos Estados Unidos, o premiê Binyamin Netanyahu afirmou nesta sexta (27) que vai discutir o assunto "nos próximos dias".
A afirmação, feita em um comunicado, faz parte da tática israelense de ganhar tempo enquanto procura infligir dano máximo às capacidades militares do grupo fundamentalista libanês, que é bancado pelo Irã como seu aliado Hamas, o artífice da atual guerra no Oriente Médio."Nossas equipes se encontraram para discutir a iniciativa dos EUA e como podemos fazer ir à frente o objetivo compartilhado de levar as pessoas com segurança de volta para casa", disse o premiê, em referência aos 60 mil refugiados do norte do país devido aos ataques do Hezbollah.
Os libaneses não escalaram seu atrito com Israel a ponto de provocar uma nova guerra aberta, como em 2006, mas desde que os terroristas palestinos atacaram o Estado judeu em 7 de outubro do ano passado, lançaram mais de 9.300 mísseis e foguetes contra o vizinho.
Na semana passada, Netanyahu abandonou sua política de contenção de danos e foi na jugular do Hezbollah de forma inaudita nas duas últimas décadas. Líderes militares do grupo foram mortos, todos que carregavam pagers e walkie-talkies foram alvejados e uma campanha aérea pesada tomou corpo.
De forma inevitável, vieram os mortos civis, contados na casa dos 650 pelos libaneses, gerando grande pressão internacional sobre Tel Aviv. Agora, ameaçando inclusive uma invasão terrestre do sul do Líbano, o premiê tenta ampliar o estrago sobre os rivais.
Os ataques continuaram nesta sexta, sem um balanço ainda. Do lado contrário, o Hezbollah lançou várias ondas de ataques com foguetes e mísseis: só na manhã, foram quatro alertas em dezenas de localidades. Ao menos duas pessoas ficaram feridas.
Na madrugada, outro aliado do conglomerado liderado pelo Irã mostrou sua face: os houthis, rebeldes que desde 2014 controlam parte do Iêmen. Eles, que têm provocado disrupção no comércio marítimo global ao atacar navios no mar Vermelho, lançaram um míssil de longo alcance contra Tel Aviv.
O projétil foi interceptado fora do espaço aéreo israelense pela primeira camada de defesa antiaérea do país, o sistema Arrow (flecha, em inglês). Na tarde (manhã no Brasil), o grupo disse também ter lançado 23 mísseis e drones contra três destróieres americanos que patrulham a região, sem falar em danos -os EUA não comentaram.
A movimentação é um lembrete das múltiplas frentes desta guerra, cujo foco na Faixa de Gaza perdeu peso relativo ante a crise no norte com o Hezbollah.
Isso dito, uma solução diplomática parece difícil, mesmo com o empenho de americanos, franceses, sauditas e aliados. Havia rumores acerca de um acordo maior, envolvendo o cessar-fogo em Gaza e a libertação dos talvez 64 reféns tomados pelo Hamas que presumivelmente estão vivos, mas nada se concretizou.
Adversários de Netanyahu o acusam de não trabalhar de fato por nada disso, e sim manter uma agenda de crise de segurança permanente e acerto de contas com os adversários para manter em pé seu gabinete, que se sustenta no apoio de radicais de direita.
Tal postura acaba encontrando eco nos setores das Forças de Defesa de Israel que advogam pelo enfrentamento. O 7 de Outubro e a impossibilidade de vida normal no norte do país reforçaram essa visão.
Outro fator no cálculo de Netanyahu, que falará nesta sexta na Assembleia-Geral da ONU, é a eleição americana. Joe Biden quer deixar o governo com algo a dizer à esquerda do Partido Democrata, que demoniza seu apoio a Israel, e quem sabe ganha alguns votos para sua vice, Kamala Harris, em novembro.
Já o premiê é um aliado do rival da democrata, Donald Trump. Foi no governo do republicano que Israel fez paz com diversas potências sunitas na região, chegando perto de um acordo com a Arábia Saudita, para isolar o Irã.