A Rússia realiza de hoje (15) a domingo eleições presidenciais, nas quais é esperada a recondução de Vladimir Putin para um quinto mandato presidencial até 2030, diante da ausência de oposição independente, do controle de informação e da manipulação.
Segundo a Comissão Eleitoral Central, 112,3 milhões de eleitores são chamados a votar nos próximos três dias na Rússia, nas regiões ocupadas na Ucrânia e na península ucraniana da Crimeia anexada, a que se somam 1,9 milhão no exterior.
Esta é a primeira vez que as eleições presidenciais russas ocorrem em três dias, o que tem sido observado pelos analistas como instrumento potencial de manipulação eleitoral, adicionando-se a estreia de votação online em 29 regiões e o aumento do risco de controle maior por meio dos serviços de informações (FSB).
As eleições são vistas como mera formalidade, com vencedor antecipado, tendo sido autorizadas apenas candidaturas classificadas como amigáveis em relação ao Kremlin (presidência): Nikolai Kharitonov, do Partido Comunista, Leonid Slutsky, do nacionalista Partido Liberal Democrata, e Vladislav Davankov, do Novo Partido Popular.
Em 16 de fevereiro, o mais conhecido líder da oposição russa, Alexei Navalny, cuja tentativa de concorrer contra Putin em 2018 foi rejeitada, morreu repentinamente na prisão, em circunstâncias pouco claras, enquanto cumpria pena de 19 anos por acusações de extremismo.
Menos de uma semana depois, o Supremo Tribunal da Rússia rejeitou recurso do opositor Boris Nadezhdin, que se manifesta abertamente contra a guerra na Ucrânia, após a deliberação da Comissão Eleitoral Central que recusou sua candidatura por irregularidades processuais.
A própria candidatura de Putin está envolta em teia de suspeição. O presidente é acusado de violação da lei, ao avançar com a reforma constitucional para abrir caminho à sua reeleição por mais seis anos.
Em 2018, Putin venceu no primeiro turno com 77,7%. A eleição teve participação registrada de 67,54%, embora observadores e eleitores tenham relatado violações generalizadas, incluindo enchimento de urnas e votações forçadas.
Nos últimos anos, o Parlamento introduziu legislação cada vez mais opressiva, que restringiu a liberdade de expressão. A grande maioria dos meios de comunicação independentes foi proibida. Qualquer pessoa acusada de espalhar o que o governo considere “informação deliberadamente falsa” sobre a invasão da Ucrânia pode ser presa e condenada até 15 anos.
Segundo observadores, as eleições podem ser vistas também como plebiscito interno de Putin para reforçar o apoio à invasão da Ucrânia, que custa ao Estado acima de 30% em gastos no setor de defesa. O presidente tentar tranquilizar a população no sentido de que a despesa social não está ameaçada.
A oposição vê a votação como oportunidade para demonstrar o nível de descontentamento. Após a morte do marido na prisão em fevereiro, Yulia Navalnaya tem seguido os seus passos de contestação ao Kremlin e apelou aos russos para que votem em qualquer candidato menos nele, deixem um voto nulo ou escrevam Navalny em letras grandes no boletim de voto.
Para domingo (17), está agendado o protesto internacional Meio-dia contra Putin, um apelo da oposição que convida os cidadãos, na Rússia e no exterior, a se deslocarem às assembleias de voto ao meio-dia, “para expressar posição coletiva contra a atual situação política”.