Em meio ao embate de Jair Bolsonaro (PL) com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sobre a Reforma Tributária, o chefe do Executivo mineiro, Romeu Zema (Novo), teve uma alta em sua popularidade digital.
É o que mostra o IPD (Índice de Popularidade Digital), calculado diariamente pela empresa de pesquisa e consultoria Quaest.
Com a decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que tornou Bolsonaro inelegível por oito anos no último dia 30, abriu-se oficialmente a disputa sobre qual nome da direita será o sucessor do ex-presidente e liderará a oposição no pleito de 2026.
Menos de uma semana depois, Tarcísio, que tem sido apontado como um dos principais cotados -apesar de ele descartar ter essa intenção- teve um desentendimento público com Bolsonaro em reunião do PL e vem sendo fritado pela direita radical nas redes.
O movimento não representou ainda uma variação significativa no índice de popularidade digital de Tarcísio, que lidera entre os nomes analisados pela Quaest.
Enquanto Tarcísio era pintado como traidor, Romeu Zema apareceu como fiel ao bolsonarismo, conforme avalia Guilherme Russo, diretor de inteligência da Quaest. Ele destaca repercussão de texto do portal Metrópoles sobre negociação para a entrada do político no PL.
O IPD, que vai de 0 a 100, é calculado por meio de um algoritmo de inteligência artificial que coleta e processa 152 variáveis das plataformas Twitter, Facebook, Instagram, YouTube, Wikipédia e Google.
São consideradas na nota final do índice cinco dimensões: fama (número de seguidores), engajamento (comentários e curtidas por postagem), mobilização (compartilhamentos), valência (proporção de reações positivas e negativas) e interesse (volume de buscas).
O peso que cada dimensão tem na conta é determinado por um modelo assimilado pela máquina a partir dos resultados reais de eleições anteriores, com milhares de candidaturas monitoradas pela empresa.
Apesar de ser citado como um importante cabo eleitoral, Bolsonaro tem evitado demonstrar apoio a eventuais sucessores.
Nesta quinta (6), enquanto Tarcísio defendia a Reforma Tributária, o ex-presidente recebeu aplausos ao interrompê-lo para dizer que "se o PL estiver unido, não aprova nada". O deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), por sua vez, afirmou que o governador não representava a direita.
Na data, as menções positivas a Zema nas redes ficaram em 38%, enquanto Tarcísio teve 27%.
Uma das postagens de destaque citando Tarcísio foi a do deputado federal André Janones (Avante-MG), que o chamou de "companheiro".
Segundo Russo, as movimentações na popularidade digital são um alerta de risco para Tarcísio sobre sua base de apoio. Isso porque, ao passo que ele foi alvo da própria direita, as críticas a Zema teriam se concentrado na esquerda.
"Isso não é não é um problema para ele [Zema], na verdade é um momento muito positivo", diz Russo. "Valida a posição dele de candidato da direita." Já Tarcísio, avalia o diretor de inteligência, é forçado a enfrentar a realidade de que sua base é bolsonarista e ele terá muito trabalho para construir uma imagem própria distinta de Bolsonaro.
Um outro momento de destaque nas redes de Zema ocorreu nos primeiros dias de junho, depois de uma declaração pela qual foi alvo de críticas e acusações de xenofobia.
Depois de afirmar que os estados do Sul e do Sudeste são diferentes porque neles há proporção maior de pessoas trabalhando do que vivendo de auxílio emergencial, o governador mineiro disse que foi mal-interpretado.
A análise da Quaest também identificou que as postagens de Tarcísio e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro a respeito do julgamento e mencionando Bolsonaro têm engajamento superior às sobre outros assuntos.
Tarcísio não emitiu juízo sobre a decisão da corte eleitoral, mas demonstrou apoio àquele que o cacifou para o governo paulista, dizendo que a liderança de Bolsonaro como representante da direita brasileira é "inquestionável e perdura" e finalizou a postagem com a frase: "Seguimos juntos, presidente".
Também no início de junho, uma alta na popularidade digital de Tarcísio estava atrelada ao ex-presidente, que no dia 8 de junho postou um vídeo elogiando o aliado. Na mesma data, ocorreu a Marcha para Jesus, onde o governador paulista foi aplaudido e chegou a se ajoelhar no palco com as mãos para o alto em sinal de oração.
Considerando o mês de junho, o post de maior repercussão entre os nomes analisados, com 1,5 milhão de curtidas, foi de Michelle após o julgamento em seu Instagram, quando citando versículo bíblico escreveu que "quem agir de forma injusta receberá o devido pagamento da injustiça cometida".
Outro momento de alta foi no começo de maio, na mesma semana em que ocorreu o evento do PL Mulher, o qual ela preside. Houve críticas de interlocutores à presença de Bolsonaro em compromisso festivo, em semana posterior à prisão de aliados.
Apesar da posição de vantagem na popularidade digital, figurando à frente de outros nomes que têm sido aventados, como dos governadores Ratinho Júnior (PSD-PR) e Cláudio Castro (PL-RJ) e da senadora Tereza Cristina (PP-MS), a viabilidade de uma candidatura de Michelle à Presidência é vista como remota.
Ela não seria um consenso na própria família Bolsonaro, e a hipótese mais provável é que concorra a uma vaga no Senado. Por outro lado, entre evangélicos, há defesas por uma candidatura reunindo Tarcísio, na cabeça de chapa, e Michelle como vice.
Com vantagem sobre Michelle apenas em parte do período analisado pela Quaest, Eduardo Leite não aferiu repercussão nas redes a partir da condenação de Bolsonaro. Seu post recente de destaque, traz uma foto com o presidente Lula (PT) em visita ao Palácio Piratini, no Rio Grande do Sul, com discurso de diálogo e busca de soluções.
Leite, que não teve sucesso em se tornar candidato a presidente em 2022, tem pregado a necessidade de um projeto que ofereça uma alternativa à polarização entre Bolsonaro e Lula.