O Paraná é o estado da região Sul do Brasil com menor rendimento médio domiciliar por pessoa e ainda apresenta o maior nível de desigualdade entre os estados sulistas, numa situação que tem se agravado nos últimos anos, quando a renda das camadas menos favorecidas da população caiu e a concentração de riqueza na mão de alguns poucos se agravou. É o que mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua: Rendimento de todas as fontes 2021, divulgada na última sexta-feira pelo IBGE.
No ano passado, o rendimento médio mensal domiciliar por pessoa caiu 5,5% no Paraná, passando de R$ 1.618 para R$ 1.529. Este é o menor valor da série histórica, iniciada em 2012, sendo que o montante chegou a ser de 1.755 em 2018 e, desde então, acumula queda de 12,9%.
“Esse resultado é explicado pela queda do rendimento médio do trabalho, que retraiu mesmo com o nível de ocupação começando a se recuperar, e também pela diminuição da renda das outras fontes, exceto as do aluguel”, explica Alessandra Scalioni, analista da pesquisa, apontando a mudança nos critérios de concessão do auxílio-emergencial ocorridas em 2021 como uma das principais causas da queda no rendimento de outras fontes.
Entre os estados da região Sul, o Paraná é aquele que apresenta o menor rendimento médio per capita, atrás de Rio Grande do Sul (R$ 1.767) e Santa Catarina (R$ 1.685). No Brasil, a lista das unidades da federação com resultado melhor tem ainda o Distrito Federal (R$ 2.480), São Paulo (R$ 1.816) e Rio de Janeiro (R$ 1.685). Ainda assim, a renda do paranaense fica acima da média nacional, de R$ 1.353.
Chama a atenção, ainda, que apesar do aumento na população ocupada no estado, a massa do rendimento real de todos os trabalhos caiu 3,1%, com o montante passando de R$ 14,61 bilhões para R$ 14,15 bilhões.
Desigualdade em alta
No Paraná, o índice de Gini do rendimento médio mensal domiciliar por pessoa interrompeu uma sequência de quedas, sendo que quanto maior o Gini, maior a desigualdade local. De 2017 para 2018 o índice passou de 0,481 para 0,492. Nos anos anos seguintes (2019 e 2020), caiu para 0,477 e 0,462. Já em 2021 voltou a subir e alcançou 0,475. O menor valor já registrado, em 2015, foi de 0,453.
Na região Sul, o Paraná apresenta o pior resultado, atrás de Santa Catarina (0,424) e Rio Grande do Sul (0,468). No Brasil, Rondônia (0,459), Mato Grosso (0,461) e Goiás (0,467) também apresentam índices menores.
Já no que diz respeito apenas ao rendimento médio mensal de todos os trabalhos, o índice permaneceu estável no Paraná, em 0,444. Esse resultado demonstra que o retorno de parte da população ocupada em 2021 reduziu a média de rendimento e não modificou o perfil da distribuição de renda do trabalho no estado.
10% mais ricos ‘comem’ um terço do bolo das rendas
Considerando a massa total do rendimento domiciliar per capita (RDPC) dos paranaenses, temos um cenário no qual os 10% da população com maiores rendimento concentram 36,6% da massa da RDPC, tendo aumentado a concentração de renda entre os mais ricos na comparação com o ano anterior, quando a ‘fatia’ dos mais ricos era de 35,5%.
Para se ter noção do que isso representa, metade da população com menor rendimento domiciliar per capita no estado fica com 19,3% da massa total dos rendimentos. Ou seja, enquanto a metade mais pobre da população tem um quinto do ‘bolo’ para repartir, a metade mais rica fica com os 80,7% restantes. Enquanto os 10% dos paranaenses com menores rendimentos respondem por apenas 1,2% da massa total, os 10% dos mais ricos ficam com 36,6% do bolo.
Mais ricos ganham 149 vezes mais que os mais pobres no Estado
Para dar uma dimensão mais real e menos metafórica à desigualdade, é possível também olhar o rendimento mensal real domiciliar per capita conforme as classes de RDPC. E esses dados revelam que o 1% mais rico dos paranaenses teve um rendimento mensal real domiciliar per capita 149 vezes maior que o montante recebido mensalmente pelos 5% da população com menor renda.
Enquanto o 1% dos mais ricos teve R$ 14.486 por mês no ano passado, os 5% dos mais pobres tiveram de sobreviver com R$ 97 por mês. Desa forma, enquanto aqueles 1% concentraram 9,5% da massa do RDPC a cada mês, esses tiveram de se contentar com apenas 0,3% do ‘bolo’ de todos os rendimentos.
Se a comparação for entre os 10% mais pobres e os 10% mais ricos da população, a diferença ainda é gritante. Entre o décimo menos favorecido da população, o rendimento médio mensal real domiciliar per capita foi de R$ 194 no último ano (valor que caiu 6,3% na comparação com 2020, quando o montante era de R$ 207). Já o décimo mais favorecido dos paranaenses recebeu, em média, R$ 5.579 por mês, 29 vezes mais que as pessoas na outra ponta da escala de rendimentos.