Entre as famílias de renda mais baixa, que recebem até 10 salários mínimos mensais, 74,2% estão endividadas, um recorde. Na faixa de renda mais elevada, que recebe mais de 10 salários mínimos mensais, também há um ápice de 67,6% de endividados.
A situação ainda difícil do mercado de trabalho, com elevado nível de desemprego, e a inflação elevada, com choques de preços em itens essenciais como alimentos, estão impulsionando a maior contratação de dívidas pelas famílias, especialmente as de renda mais baixa.
"As pessoas estão recorrendo ao cartão de crédito para consumir produtos de primeira necessidade, porque o dinheiro não dá para fechar o mês. É para poder fechar as contas, para poder chegar ao fim do mês minimamente com as contas em dia", justificou Izis.
Por outro lado, entre as famílias de renda mais elevada, as taxas de juros ainda relativamente baixas e a flexibilização de medidas de isolamento social têm contribuído para saques da poupança e gastos com serviços no cartão de crédito, além de contratação de financiamentos de imóveis e automóveis, enumerou a economista da CNC.
O aumento na contratação de dívidas pelos consumidores começou a se acirrar ainda no último trimestre do ano passado. A tendência é de crescimento, o que acende um alerta para uma possível expansão da inadimplência. "Isso naturalmente vai aumentar o risco para a inadimplência. Além disso, tem as dificuldades relacionadas à renda, à inflação, ao mercado de trabalho que não parece ter condições de absorver esse aumento na busca por emprego", lembra Izis Janote Ferreira.
Por ora, a inadimplência permanece estável: 25,6% das famílias brasileiras estavam inadimplentes em agosto, mesmo resultado de julho. Embora o resultado signifique que um em cada quatro lares do País possua alguma conta ou dívida atrasada, o resultado está 1,1 ponto porcentual abaixo do registrado em agosto do ano passado, quando 26,7% das famílias estavam inadimplentes.
O total de famílias que afirmam não ter condições de pagar suas contas e dívidas já atrasadas e que, portanto, permanecerão inadimplentes no mês subsequente, desceu de 10,9% em julho para 10,7% em agosto.
No Acre, 93,7% das famílias já estão endividadas. A proporção de lares com dívidas alcançou níveis recordes em agosto no Acre, Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco e São Paulo.
Das 27 Unidades da Federação, o volume de famílias com dívidas superou a média histórica local em 24 delas. Apenas Piauí, Distrito Federal e Santa Catarina mantêm o endividamento abaixo da média histórica.
Em agosto, a dívida mais frequente entre as famílias foi o cartão de crédito, mencionado por um auge de 83,6% das famílias endividadas. Em fevereiro, no pré-pandemia, 78,4% dos endividadas tinham contas a pagar no cartão de crédito.
"Só nas famílias de menor renda, a proporção de endividados no cartão chega a 84,3%, acima do dado nacional. Para você ver como o cartão de crédito está sendo a saída, embora seja uma modalidade cara, arriscada. Porque às vezes a dívida chega a uma proporção tamanha da renda, que a pessoa se vê numa situação de dificuldade de pagamento, e, para renegociar essa dívida, é uma renegociação que você vai partir de uma taxa de juros de cerca de 300% ao ano", alerta Izis.
Outros tipos de dívidas que também registraram crescimento em relação ao pré-pandemia foram carnês de loja (mencionados por 18,2% dos endividados), financiamento de carro (13,1%), financiamento de casa (10,3%), crédito pessoal (9,5%) e crédito consignado (6,8%).