A intensificação do aquecimento global pode trazer graves prejuízos para a agricultura brasileira, que atualmente já enfrenta um clima adverso para produzir.
Um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) publicado nesta segunda-feira (9) concluiu que a temperatura global pode subir de 1,5°C a 2°C neste século, caso não haja uma forte redução nas emissões de gases de efeito estufa.
Além disso, o documento do IPCC, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), afirma que os seres humanos já são responsáveis por um aumento de 1,07°C na temperatura do planeta.
Esse cenário aumentou a chance de eventos climáticos extremos desde 1950, incluindo a frequência da ocorrência de ondas de calor e secas em escala global, o que, para especialistas consultados pelo G1, podem trazer, ao menos, 2 impactos para a produção de alimentos no Brasil:
Algumas das projeções do relatório do IPCC para a América do Sul indicam a possibilidade de um aumento das secas no Nordeste brasileiro e em partes da Amazônia e do Centro-Oeste do país, com consequências para a agricultura.
Na prática, a ausência de chuvas durante longos períodos dificulta o desenvolvimento das plantações, como o enchimento de grãos e crescimento de frutos, além de reduzir a qualidade das pastagens para a alimentação animal.
Culturas como soja, milho, feijão, café e laranja enfrentam problemas deste tipo por causa de estiagem, desde o ano passado.
As altas temperaturas também podem causar a morte de animais e aborto de porcas e pintinhos, informa Eduardo Assad, pesquisador e especialista em mudanças climáticas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Informática.
"Cerca de 30% da produtividade dos alimentos é explicada pela variação climática. Os outros 70% são explicados por insumos, fertilizantes, genética, práticas agrícolas. Ou seja, quando você tem um problema de clima, a sua produtividade cai, não importa o quanto você investiu em tecnologia", diz Rafael Barbieri, economista sênior do World Resource Institute (WRI) Brasil.
Ele afirma que, com redução na produção, há o risco ainda de aumento dos preços dos alimentos. Segundo o economista, os eventos climáticos extremos são responsáveis por 25% a 35% das oscilações de preços agrícolas.
Paulo Moutinho, pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), diz que os períodos de seca no Brasil já aumentaram somente com o desmatamento, e que a expectativa de crescimento de eventos climáticos extremos agrava ainda mais o cenário.
"Na região do Xingu, onde tem muito plantio para soja, o produtor sabe que as secas estão ficando cada vez mais intensas, o período chuvoso já encurtou duas semanas", afirma.