Muita gente não agüenta mais tanto frio intenso e não é para menos. Em um intervalo de apenas 30 dias o Brasil foi alcançado por três fortes massas de ar de origem polar. Fez muito frio no final de junho, uma nova erupção de ar polar chegou na terceira semana de julho e, por fim, uma intensa incursão de ar gelado trouxe neve
e frio de até 10ºC abaixo de zero com sensações de -20ºC nas áreas de maior altitude no final de julho.
A boa notícia é que o pior do frio está ficando para trás. Este começo de agosto ainda tem os reflexos da incursão do ar polar da última semana de julho e nesta terça-feira (3), por exemplo, a temperatura chegou a -5ºC no Rio Grande do Sul e -7ºC em Santa Catarina. O frio, entretanto, deverá perder força durante os próximos dias e as tardes no próximo fim de semana devem ser até quentes para o mês de agosto.
A tendência, aliás, é que daqui para a frente aumente cada vez mais o número de dias de temperatura amena ou elevada, sendo uma marca do mês de agosto o registro de alguns dias de calor, às vezes até intenso, especialmente na segunda metade do mês. Setembro, então, sempre tem alguns dias de calor e já houve anos em que a temperatura aproximou-se dos 40ºC em pleno último mês do inverno astronômico, apesar de marcas tão altas assim serem raras no mês.
O aumento do número de dias de temperatura agradável ou alta, porém, não significa que o frio acabou. As massas de ar frio vão seguir alcançando o Sul do Brasil nas próximas semanas. Ocorre que tendem a não ter a mesma potência, no geral, das três últimas e a frequência de incursão de ar gelado será menor.
Com efeito, dias frios e de geada ainda devem ser esperados neste mês de agosto e no mês de setembro. Apenas que serão menos numerosos e freqüentes do que o observado nos meses de junho e julho. O inverno está longe de terminar e não será ainda na primeira semana de agosto que se decretará o seu fim.
Poderia haver uma nova massa de ar frio poderosa como a do final de julho? É altamente improvável do ponto de vista estatístico. A incursão de ar gelado de dias atrás foi uma das mais fortes deste século até agora ao alcançar o território brasileiro a ponto de trazer a segunda maior nevada em abrangência e intensidade dos últimos 20 anos no Rio Grande do Sul e a menor temperatura mínima em julho na cidade de São Paulo desde 2000 e a segunda menor mínima na capital paulista em 21 anos.
Eventos como do final de julho não ocorrem sempre. O tempo de recorrência deste tipo de episódio costuma de ser de anos e mesmo de décadas para algumas áreas. Seria uma imensa anomalia estatística uma nova onda de frio de tamanha potência se repetir neste ano ainda e ainda mais no final do inverno. Modelos numéricos de mais longo prazo não indicam nenhuma massa de ar polar de igual potência para este mês ou setembro.
Se o pior do inverno está chegando ao fim neste começo de agosto, os riscos do frio não vão desaparecer tão cedo. Neste momento, o Oceano Pacífico Equatorial está iniciando um novo processo de resfriamento que pode levar a um novo episódio do fenômeno La Niña nos próximos meses, possivelmente se instalando no decorrer da primavera. Com isso, o risco de frio e geada tardios aumenta à medida que o fenômeno oferece incursões de ar frio tardiamente mesmo durante a primavera.
Existe, assim, a possibilidade de episódios frios e de geada tanto nos meses de setembro como de outubro no Sul do Brasil, o que nesta altura do calendário e pelo estágio de algumas culturas como trigo e milho poderia resultar em prejuízos. Outra preocupação é com a fruticultura, uma vez que os dias mais amenos e quentes de agosto e setembro vão induzir na planta a percepção que o inverno acabou, e um novo evento frio mais forte poderia acarretar prejuízos.
À medida que avança a primavera, a possibilidade de geada mais ampla vai diminuindo e a tendência com o passar das semanas é que o fenômeno se concentre mais em locais de maior altitude, em especial nas baixadas.
Excepcionalmente, sob La Niña, frio muitíssimo tardio pode ocorrer até na segunda metade de outubro e durante o mês de novembro, mas é menos comum ocorrer. Em 2007, por exemplo, uma forte erupção de ar polar atingiu a Argentina e o Rio Grande do Sul na metade de novembro com muita geada e graves perdas no campo.