(FOLHAPRESS) - interna para alinhamento à agenda bolsonarista, incluindo a oposição a qualquer proposta vinda de partidos à esquerda.
Integrantes e ex-integrantes da legenda afirmam que o partido se inclinou para a direita mais radical após a filiação de Jair Bolsonaro e vários de seus aliados em novembro de 2021.Eles poupam o presidente Valdemar Costa Neto e atribuem a atitude a parlamentares alinhados ao bolsonarismo.
Para o grupo de críticos, a maioria mantém a agenda direitista conservadora, enquanto a minoria, por volta de 20 parlamentares, mantém-se mais inclinada ao centro.
Em 2022, o PL elegeu 99 deputados federais. Hoje, tem 94. As baixas se deram pela saída de cinco parlamentares e pela morte de Amália Barros, então vice-presidente do PL Mulher.
O deputado federal Samuel Viana (hoje no Republicanos-MG) relata que a pressão da direita "raiz", como é chamada essa ala do partido, resultou na sua saída, ao fim de 2023. Segundo ele, foram meses de discussão interna e de avaliação até concluir que, se quisesse seguir por outra linha, seria necessário se desfiliar.
"Os parlamentares da ala extremista não aceitavam que outros parlamentares tinham outro perfil. Queriam impor para votarem tudo contra [a esquerda]", relata. "Isso gerou um conflito interno, então eu entendi que, para ter esse perfil moderado, eu teria que sair do partido."
Em sua avaliação, a conduta que o fez deixar o PL tem ganhado cada vez mais espaço na sigla.
"Minha percepção é de que o partido continua com o viés do radicalismo, do extremismo, e quem está tomando esse viés são os parlamentares que estão ditando o tom", diz.
Trata-se, segundo ele, de um viés de submissão. "Ou você aceita o que diz o bolsonarismo ou você é considerado um 'comunista do PL'."
A saída de Viana foi seguida pelas de Yuri do Paredão (MDB-CE), Luciano Vieira (Republicanos-RJ) e Junior Mano (PSB-CE). Robinson Faria (RN) também já indicou sua saída.
Mano foi expulso após fazer campanha para Evandro Leitão (PT), atual prefeito de Fortaleza, que concorreu contra o candidato do próprio PL, o bolsonarista André Fernandes.
Ao sair, Mano fez postagem em rede social na qual reiterou seu apoio a Valdemar e disse que o líder da sigla havia sido obrigado a expulsá-lo por pressão de Bolsonaro.
"Reconheço que as decisões que você está sendo obrigado a tomar não refletem seu verdadeiro desejo. Todos sabem que o ex-presidente Bolsonaro está no comando do partido e foi ele quem solicitou minha expulsão", diz na publicação.
Luciano Vieira, por sua vez, relata uma saída combinada com a sigla devido ao apoio ao irmão, Leo Vieira (Republicanos), na disputa à Prefeitura de São João de Meriti (RJ). Vieira derrotou o candidato do PL, Valdecy da Saúde.
"O partido acabou seguindo com o prefeito da cidade, que era nosso adversário, oposição de lá, e acabou que eu tive que sair pra disputar a eleição e ganharmos", diz. "Entenderam e respeitaram."
Yuri do Paredão disse que está hoje no MDB e que não opina sobre a vida partidária de outras siglas.
"Minha saída do PL aconteceu por defender o diálogo, o respeito às instituições e acreditar no governo Lula. Por fim, saliento, que tenho profundo respeito ao presidente Valdemar Costa Neto."
Robinson Faria não respondeu aos contatos da reportagem.
Procurado, o PL afirmou por meio de nota que "nenhum parlamentar deixou a legenda devido ao alinhamento com o bolsonarismo ou às pautas da direita". Segundo a sigla, as mudanças de partido ocorreram exclusivamente por razões regionais ou pessoais.
"Além disso, muitos deputados já manifestaram intenção de se filiar ao PL na próxima janela partidária, especialmente pelo vínculo com o bolsonarismo. Estamos confiantes de que ampliaremos ainda mais nossa força no Congresso Nacional, consolidando o PL como um dos maiores partidos do país", diz.
O PL é uma das várias crias da Arena, a sigla que apoiava o regime militar, e é comandado por Valdemar Costa Neto desde o início do século.
Após um período de adesão e de oposição nos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB, de 1995 a 2002), o partido emplacou a vice na chapa de Lula (PT), em 2002, com o empresário José Alencar, então vindo do MDB.
Desde então, o PL esteve quase sempre na órbita dos governos do PT, em especial comandando a área de transportes. Em 2014, passou a integrar o centrão, grupo recriado por Eduardo Cunha (então no MDB-RJ) e que seria decisivo na derrubada de Dilma Rousseff (PT) em 2016.
Após a filiação de Bolsonaro, em 2021, a sigla saiu da categoria dos médios partidos e virou grande.
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