24/10/2023 | 17:30 | G1 Paraná
Aves que nasceram de ovos encontrados em sutiã de passageira são da família dos tucanos e araçaris; conheça


As aves que nasceram de ovos encontrados escondidos no sutiã de uma passageira no aeroporto de Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, pertencem à família dos ranfastídeos, segundo o Parque das Aves.

O grupo inclui aves como os tucanos e araçaris. Leia mais a seguir.

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Apesar de ser possível classificar a família dos filhotes, ainda não é possível determinar qual a espécie deles, como explica a gerente da curadoria animal do Parque das Aves, Roberta Manacero.

"A gente consegue identificar que são do grupo dos ranfastídeos, que é uma família que inclui tucanos e diversas espécies de araçaris. Nesse momento a gente só não sabe ainda a espécie exata", explica.

Os ovos foram apreendidos em uma fiscalização da Polícia Federal (PF), em 13 de setembro. A passageira afirmou aos policiais que os ovos eram de codorna e seriam para a alimentação dela. Disse ainda que os levaria para Assunção, capital do Paraguai.

Sob os cuidados intensivos da equipe técnica na quarentena do Parque das Aves, os ovos foram mantidos em uma incubadora e, aos poucos, foram eclodindo. Até terça-feira (23), seis filhotes nasceram.

De acordo com o parque, cerca de 30 dias após o nascimento das aves, será possível determinar a espécie delas. Isto porque a identificação é feita por meio da penugem, e é a partir deste momento que os animais começam a desenvolver penas distintivas.

2 de 4 Tucanos e araçaris são aves da família ranfastídeos — Foto: Rodrigo Sargaço/ TG e Geancarlo Merighi

Tucanos e araçaris são aves da família ranfastídeos — Foto: Rodrigo Sargaço/ TG e Geancarlo Merighi

Ranfastídeos

O professor Luiz Mestre, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que as aves da família Ramphastidae, ou ranfastídeos, como são conhecidos, são aves com penas coloridas, bicos grandes e áreas "nuas" ao redor dos olhos. Dentro da família, há cerca de 40 espécies.

Estas aves vivem em bandos na maior parte do continente americano e estão presentes do México central até o sul do Brasil.

"Estas aves se alimentam principalmente de grãos e frutas podendo ser consideradas personagens importantes para a manutenção da floresta, pois auxiliam na dispersão de sementes. Porém, também podem comer pequenos vertebrados e filhotes de outras aves que ainda se encontram no ninho", detalhou o professor.

De acordo com o livro Ornitologia Brasileira, do ornitólogo Helmut Sick, a alimentação destas aves também inclui pequenos vertebrados e filhotes de outras aves que ainda se encontram no ninho.

Os bicos destes animais são compostos por ossos esponjosos. Por isso, apesar de longos, são considerados resistentes e leves. Outra função do bico é servir de caixa de ressonância e dispersor de calor.

"Excepcionais pelo quase monstruoso bico, cujo comprimento pode mesmo exceder o do corpo e que, apesar de duro e cortante o suficiente para lacerar a nossa pele, é leve, poroso e translúcido quando visto contra a luz", explica Sick.

As aves da família Ramphastidae possuem língua fina, longa e queratinizada. Essas aves contrabalanceiam o peso do corpo com a cauda longa e o auxílio de dedos robustos em disposição zigodáctila, ou seja, dedos 2 e 3 para frente e o 1 e 4, para trás. Veja na foto abaixo:

3 de 4 Aves da família Ramphastidae contrabalanceiam o peso do corpo com auxílio de dedos em disposição zigodáctila — Foto: Antonio Carlos Ferreira/Vanguarda Repórter

Aves da família Ramphastidae contrabalanceiam o peso do corpo com auxílio de dedos em disposição zigodáctila — Foto: Antonio Carlos Ferreira/Vanguarda Repórter

Veja algumas características de ranfastídeos:

Podem ser encontrados do México central até o sul do Brasil;Estão na lista do animais em extinção;Alimentam-se de grãos, frutas, pequenos vertebrados e filhotes de outras aves;Deslocam-se conforme a sazonalidade de frutificação das árvores;O bico ajuda a contrabalancear o peso do corpo;Escondem o bico quando dormem;Macacos e gaviões-de-penhacho são predadores dos tucanos;Voam em fila indiana.

Luiz Mestre lembra que ranfastídeos como os tucanos são alvo de caçadores, por isso, muitos deles correm risco de extinção.

"Essas práticas estão levando algumas espécies a correrem risco de serem extintas, localmente ou globalmente. Na próxima vez que observar um tucano em cativeiro ou vida livre, lembre da importância ecológica desta ave e de suas características marcantes que fazem destes animais exuberantes uma marca inconfundível das nossas florestas tropicais", afirma.

Hábitos

Helmult Sick explica no livro que os ranfastídeos voam, geralmente, em fila indiana. Eles não apresentam hábitos migratórios, porém, dentro da região onde são encontrados, estão sempre em deslocamento acompanhando a sazonalidade de frutificação das árvores.

Os ovos dessa família são brancos, quase arredondados, e o período de incubação varia, entre as espécies, de quinze a dezoito dias.

Elas costumam criar ninhos em ocos de árvores e cavidades naturais. O casal se reveza na construção, ou seja, ampliação da cavidade, na choca e cuidado com a prole.

"Pousados no galho e querendo dormir, elevam a cauda, com elas cobrindo a cabeça a qual é mantida virada para as costas, mantendo o bico oculto sob as escapulares, posição esquisita ao que parece relacionada com seu hábito de dormirem em cavidades", descreveu o ornitólogo.

De acordo com Helmut Sick, entre os predadores dos ranfastídeos estão os macacos e os gaviões-de-penacho.

Possível retorno para a natureza

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