20/04/2021 | 18:18 | Folhapress
Tribunal de Contas investiga fura-fila da vacina com nomes de quem está no cemitério faz tempo
O Tribunal de Contas do Mato Grosso investiga o uso de CPFs de pessoas mortas para furar a fila da vacinação contra a Covid-19 no estado. A investigação é feita por meio do cruzamento de informações de várias bases de dados, como o Sistema de Informações de Mortalidade, comparadas à lista de pessoas vacinadas.

Até o momento, o cruzamento mostrou que 27 pessoas de 22 municípios de Mato Grosso foram vacinadas com os nomes de homens e mulheres que já morreram. O Tribunal de Contas aguarda as manifestações dos municípios para entender o que aconteceu.

Além da hipótese de uso irregular de documentos de pessoas mortas, há a possibilidade de falhas nos registros ou vacinação de homônimos.

Um dos casos suspeitos é a utilização do CPF de Elvira Furlan Cargnin, morta em outubro do ano passado, aos 84 anos, vítima de insuficiência respiratória aguda e pneumonia bacteriana. Elvira aparece no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações como vacinada contra a Covid-19 em março de 2021, cinco meses após a morte e o sepultamento em Vera, cidade localizada no norte de Mato Grosso.

“Como minha mãe ia tomar vacina se ela faleceu em outubro de 2020?”, questionou Gicelda Cargnin, filha de Elvira, em entrevista ao Jornal Nacional (Globo). “Tem que ser apurado, isso não é justo. Minha mãe está descansando lá no céu e aqui embaixo estão usando o documento dela? Eu não acho certo”.

O Tribunal de Contas fiscaliza a vacinação em Mato Grosso por meio de sua Secretaria de Controle Externo de Saúde e Meio Ambiente. O objetivo é avaliar se a aplicação das doses é realizada nos grupos prioritários previstos nos planos de imunização.

Resultados como os de pessoas vacinadas com nomes de mortos são preliminares e tratados como indícios de irregularidades. A conclusão sobre esses casos só é possível após as manifestações dos responsáveis pelas campanhas nos municípios.

Até esta segunda-feira (19), Mato Grosso registrou 344.792 casos de Covid-19, com 9.168 mortes.

Em março, a CGU (Controladoria-Geral da União) divulgou que em uma primeira rodada de análises da vacinação no país foram identificadas cerca de 50 mil inconsistências. O número representa 0,5% do total de doses consideradas no universo de análise.

Entre as inconsistências apontadas na ocasião existiam casos de vacinas aplicadas em pessoas que aparecem como mortas no Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde, com declarações de óbitos anteriores ao início da vacinação.
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